Mãe, esposa e contrabandista

Em entrevista, Didi Coman conta dos primeiros dias no ministério da Portas Abertas. Ela visitará o Brasil entre os dias 23 de abril e 10 de maio

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Como você chegou a conhecer o Irmão André e o ministério aos perseguidos?

Um casal de cunhados meus já trabalhava no ministério do Irmão André. Por meio das histórias deles, me senti bastante tocada, antes de podermos trabalhar juntos.

O ministério foi bem recebido pela Igreja Livre?Foi bem recebido e continua crescendo.
Como era o trabalho nos primeiros dias? Qual foi a sua tarefa?
Quando nos unimos ao ministério, meu marido tinha de viajar muito, o que não era fácil para mim - ficar em casa com as crianças sem saber se ele iria voltar. Minha tarefa: me dedicar completamente ao trabalho. Mas tínhamos três filhos que precisavam de um lar estável. Uma vez por ano, tinha de viajar com meu marido para o "campo".

Qual foi a situação mais difícil que você teve que passar no campo?
Toda vez que atravessávamos a fronteira, a polícia tinha muitas perguntas, e tínhamos de descarregar o carro. Na maior parte das vezes, a atitude deles não era agradável. Depois de descarregar o carro, nos deixavam esperando por horas. Você nunca sabe se vão deixá-lo entrar no país.
Uma vez viajei durante o inverno com um casal de nossa igreja para a Romênia. O casal nunca tinha participado de uma viagem dessas. Decidimos que, na alfândega, eu deveria atrair toda a atenção dos policiais, e que eles não iriam falar em outro idioma. Nosso carro estava repleto de comida, naquele tempo a Romênia passava por uma época de fome. Tivemos de tirar tudo de dentro do carro e quatro homens começaram a me interrogar: "Aonde vocês estão indo? Têm um endereço? O que vão fazer lá? Para quem é essa comida?" etc. Durou duas horas. Enquanto isso, meu amigo teve de levar o carro a uma rampa, para que checassem por baixo do veículo. Um homem ficou para trás - um policial secreto - e ele começou a ser bem amigável. Ele aceitou um pouco de café, açúcar e óleo que lhe demos. Então, em seu escritório, ele sorriu e me disse, amigavelmente: "Certo, vocês me deram algo, e eu lhes dou também (a permissão para entrar no país). Agora vocês podem me dizer aonde estão indo, para qual endereço!".
 Fiquei em dúvida, mas então percebi o que ele estava fazendo, e lhe disse firmemente: "Olhe, senhor, vou àquele hotel (iríamos passar uma noite no hotel). Sei que as pessoas estão famintas. Não tenho nenhum endereço e a comida pertence a mim!". Ele começou a sorrir e me deixou ir. O mais difícil foi passar pelo tratamento áspero de quatro pessoas e, logo em seguida, pelo tratamento amigável de uma outra.
Mas nossos amigos ficaram muito felizes quando os visitamos no inverno, apesar das estradas ruins, do gelo e da neve. Eles não haviam sido esquecidos. Que alegria e que bênção!

De tudo o que você já passou, o que mais a influenciou?A fé e a dedicação das pessoas dentro da Igreja sofredora me influenciam mais do que qualquer coisa. A  perspectiva que têm sobre Deus e Jesus, sua coragem e total amor por Deus. Sua luta e esperança - confiando em Deus e em suas promessas aconteça o que for, às vezes, nas situações mais desesperadoras.
Quando pensa no Brasil e na América Latina, o que lhe vem à mente?
Será minha primeira vez no Brasil e também na América Latina. Estou bastante ansiosa para conhecer essa parte do mundo, ter uma "visão de dentro" da cultura. Estou certa de que tudo que tenho em mente agora será bem diferente, então vou esperar a surpresa!

O que você diria a pessoas que querem trabalhar no campo, como você?
Antes de tudo: como está seu dia a dia hoje? Como está seu relacionamento com Deus? Você tem ânimo em ouvir as pessoas que estão ao seu redor? Você tem convicção de que foi Deus quem o chamou para pisar neste campo? Não se trata de uma aventura, mas dedicação para servir, a despeito do custo.

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