Tendências preocupantes na República Centro-Africana

No início do mês, a Igreja Católica na República Centro-Africana escreveu uma carta ao ex-líder rebelde e novo presidente, Michel Djotodia, levantando preocupações sobre o seu passado e pedindo-lhe para se manifestar contra o sofrimento infligido aos civis, resultado de ações de suas guerrilhas Séléka. “A situação atual no CAR revelou um mal-estar social entre a população”
“Se não for tratada corretamente, a crise [na República Centro-Africana] poderá ter consequências duradouras para a coesão nacional em matéria de convivência entre cristãos e muçulmanos”, alertou a carta do arcebispo, cuja cópia foi enviada aos representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Africana (UA) em Bangui. “É um mal que deve ser discutido antes que as frustrações e ressentimentos se tornem incontroláveis.”

A mensagem do arcebispo foi apoiada pela Comissão Episcopal de Justiça e Paz, que denunciou uma rebelião “caracterizada pelo extremismo religioso, por más intenções para a profanação e destruição programada e planejada de edifícios cristãos, e em particular as igrejas católicas e protestantes”.

“Em todo o país, a Igreja Católica pagou um alto preço”, disse a Comissão Episcopal, que enumerou uma série de atos violentos contra os cristãos e suas propriedades.

As dioceses de Kaga-Bandoro, Bambari, Alindao, Bangassou e Bossangoa estão entre as mais atingidas por rebeldes, relatou a Comissão.

Um número de sacerdotes, assim como o presidente da Conferência Episcopal da África Central, Dom Edouard Mathos, e o Arcebispo de Bambari também foram atacados, enquanto outros foram sequestrados ou caçados por rebeldes. Mais de 100 veículos foram roubados, conforme informou a Igreja Católica.

Em março, nove pessoas foram mortas na aldeia de Ouango (perto da fronteira com a República Democrática do Congo) por rebeldes que atearam fogo em 400 casas, saquearam a Igreja Católica e profanaram o tabernáculo, informou a agência de notícias católica Fides.

Igrejas protestantes também têm sido alvo de saqueadores e homens armados. Em abril, a World Watch Monitor informou que três projéteis disparados supostamente por  grupo Séléka caíram em uma igreja, matando sete pessoas e ferindo muitos, incluindo o pastor.

A hostilidade do Séléka em relação aos cristãos aumentou o temor de que a República Centro-Africana poderia se tornar um centro para a Al Qaeda.

“Meu medo vem do fato de que a República Centro-Africana é um país tão grande como a França, com apenas cinco milhões de habitantes. Agora que a pouca administração do estado tem sido completamente destruída, quem pode controlá-lá”? , alertou o padre Anastasio Roggero, em entrevista à Agência Fides. Ele é missionário  no país desde 1975.

A violência obrigou milhares de pessoas a fugir de suas casas. Segundo a Agência de Refugiados da ONU (ACNUR), cerca de 173 mil pessoas foram deslocadas internamente e quase 50 mil tornaram-se refugiados - fugindo principalmente para a vizinha República Democrática do Congo, mas também para Chade e Camarões.
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoTamires Marques

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