Asia Bibi continua à espera de justiça

“Este é o Paquistão. Aqui não temos quase nenhum direito. Aqui estamos proibidos de expressar nossas opiniões e de falar qualquer coisa sobre o Islã, a menos que seja positiva.”
Dia após dia, Aasiya Noreen, cristã paquistanesa conhecida como Asia Bibi, tentava ser a mulher ”valiosa como rubis”, a mesma descrita em Provérbios 31. Acordava cedo e preparava o café da manhã para o marido e as filhas, antes de mandá-las para a escola. Certificava-se de que seus uniformes estavam limpos e passados; dessa forma, as meninas não seriam humilhadas e ridicularizadas pelos outros alunos que as desprezavam por serem cristãs de casta inferior.

Depois desses afazeres domésticos, Asia ia ao poço tirar água. Desde o instante em que cruzava a porta da frente de sua casa e caminhava pelos campos em direção ao poço, ouvia mulheres rindo e murmurando assim que passava por elas. Ela evitava olhá-las nos olhos. Algumas vezes, sentia-se tentada a retrucar.

Por diversas vezes, Asia enfrentou provocações de pessoas que questionavam sua presença naquele local. Chamavam-na de “Issai Choori”, que significa “mulher ‘varredora’ da casta inferior cristã”. “Não venha pegar água aqui. Você vai contaminar o poço e nos impossibilitar de usá-lo”, diziam a ela. Asia só pedia força a Deus, não deixando que comentários e insultos a impedissem de cuidar com esmero de seu marido e suas filhas.

Em 2009, na época de colheita, Asia foi procurar trabalho nos campos. Isto a faria ganhar um dinheiro extra, além de conseguir alguns grãos para a próxima estação. Era uma prática normal entre as mulheres da aldeia. Mas, esse dia em específico, viria a ser o pior de sua vida. Ao chegar no campo, teve de enfrentar mais insultos e provocações. Alguns comentavam sobre o fato de ela ser cristã, acreditar que Jesus era Deus, e ser amante dos costumes do Ocidente.

"Eles gritaram com ela, disseram que era uma varredora e que não pertencia à aldeia", conta um parente próximo de Asia que não quis ser identificado. "Isso foi há quatro anos. Nós ainda não sabemos qual será o destino de nossa irmã, e se vale a pena voltar para casa e tentar reiniciar a vida na antiga comunidade. Não sabemos se Deus vai responder as orações de nossa família, se vai fazê-la voltar para casa e para nós, permitir que tenhamos novamente uma vida normal", diz o parente.

Naquele dia, em junho de 2009, Asia suportou todos os insultos que pôde. Talvez tivesse sido uma daquelas manhãs em que se levantou depois de uma noite quase toda em claro, preocupada com suas filhas e seu futuro em um mundo hostil, onde os cristãos eram tão discriminados. Independente do que se passava em sua mente naquela ocasião, ela sabia exatamente no que acreditava. Naquele dia, quando seus recursos se acabaram, Asia levantou sua voz com ousadia e muita clareza.

"Ela fez o que dizíamos uns aos outros para nunca fazer", diz um pastor da região. "Ela mencionou o profeta daquele povo!" O rosto do pastor se turbou ao se lembrar de ter ouvido, repetidas vezes, por várias pessoas das regiões vizinhas, o relato do episódio. "Asia fez uma pergunta perigosa, arriscando-se de ter de enfrentar o pior destino que um cristão poderia ter. Dirigiu-se às pessoas que a estavam insultando dizendo: "Meu Jesus deu sua vida por mim e me salvou do pecado. O que o seu profeta fez por você? "

Aquele foi o último dia de liberdade de Asia. "Talvez ela imaginasse o enorme risco que estava correndo enquanto as palavras saíam de sua boca. Mas nunca vamos saber, e faz pouca diferença se ela ficou arrependida ou não. Este é o Paquistão. Aqui não temos quase nenhum direito. Aqui estamos proibidos de expressar nossas opiniões e de falar qualquer coisa sobre o Islã, a menos que seja positiva", conclui o parente de Asia Bibi.
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoDaniela Cunha

Comentários