Sem identidade, sem ajuda

Cristãos sitiados em Zamboanga, no sul das Filipinas, não podiam obter auxílio e serviços básicos das agências governamentais devido à falta de identificação e de comprovante de residência. Entenda por quê
“Os cristãos são os últimos a receber ajuda humanitária e, geralmente, são discriminados no momento da distribuição de alimento”, contou o colaborador da Portas Abertas na região. “É muito difícil conseguirem ajuda do governo porque não têm comprovantes de residência. Esses comprovantes foram queimados ou destruídos quando as famílias cristãs fugiram [do conflito], ou não os têm por conta da pobreza e do analfabetismo”.

A maior parte dos cristãos pertence à tribo sama, que vive nas cidades de Rio Hondo e Mariki, enquanto alguns eram da tribo tausug, de Santa Catalina. Estas áreas estavam entre as cinco aldeias que presenciaram os confrontos entre as forças armadas filipinas e a facção, liderada por Misuari, da Frente Moro de Libertação Nacional (FMLN). O conflito, que entra em seu décimo sexto dia, eclodiu nas primeiras horas do dia 9 de setembro.

Auxílio para Nursiba
Nursiba Asa estava prestes a alimentar seu bebê de um mês quando ouviu tiros. Ela percebeu o problema do lado de fora quando viu os vizinhos lutando. A mulher fugiu imediatamente com seus seis filhos para a casa de um parente em uma aldeia vizinha.

“Era cerca de nove horas da manhã quando eles [os vizinhos] nos disseram que tínhamos de sair porque a FMLN estava prestes a assumir”, lembrou a cristã da tribo tausug (de Santa Calatina), de 34 anos. “Meu marido decidiu permanecer. Nós ficamos na casa de parentes por quatro dias. Então, nos mudamos para a ‘arquibancada’. Eu estava chorando durante o trajeto. Levava meu bebê de 1 mês em um braços e o de 1 ano em outro. O restante dos meus filhos segurava minhas pernas até chegarmos; eram cerca de 2 horas da tarde”.

À medida que o combate persistia, os desalojados chegavam aos milhares ao Estádio Memorial Joaquin F. Enriquez, conhecido pelos moradores como “a arquibancada”. As condições de vida eram precárias e o acesso a ajuda e serviços médicos era difícil, especialmente para os cristãos da etnia sama, como Nursiba. O noticiário local também informou que havia casos de assédio entre as crianças.

Um parceiro da Portas Abertas providenciou a realocação de Nursiba e sua família. “Estou aliviada”, disse ela. “Meus filhos estão seguros aqui. Podemos dormir confortavelmente e há um teto sobre nossas cabeças. Sou grata às pessoas que cuidaram de meu bebê de 1 mês (que estava desidratado). Mas ainda estou preocupada com meu marido”.

O esposo de Nursiba foi capturado em uma loja de ferragens durante as operações militares de apuração. Ele foi preso sob a acusação de roubo e só seria liberado se ninguém apresentasse queixa contra ele. “Conheço meu marido”, disse Nursiba. “Ele não roubou nada de ninguém. Espero que seja liberto (da prisão) em breve. Ele é inocente”.

Segundo notícia da agência Euronews, os conflitos tiveram início porque “a Frente Moro de Libertação Nacional luta, desde 1971, pela criação de um Estado islâmico no sul das Filipinas, zona majoritariamente muçulmana num país católico.”
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoSuzana Barreto

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