Preciso encontrar os cristãos perseguidos porque... (11)

… eles me lembram da necessidade de cantar com meu espírito
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Certa vez, passei uma semana na companhia de uma famosa evangelista chinesa. Muitas características a destacavam: sua coragem, suas longas horas de joelhos, sua simplicidade de fé cuidadosamente cultivada. Mas, na ocasião, estas não foram as características que me marcaram e terminaram transformando minha fé. Aquilo que me impressionou nela foi o mesmo que me impressionou em todos ao seu redor: eles estavam sempre cantando!

Três características destes cantos foram marcantes.

Em primeiro lugar, os hinos em si não eram nem um pouco profundos. Em termos de conteúdo, eles não tinham profundidade teológica e fraseado poético. Wesley ou Newton não se orgulhariam destas contribuições.

Em segundo lugar, eles não cantavam muito bem. De qualquer modo, os chineses não são famosos por suas habilidades harmônicas. Eles gorjearam, zumbiram e berraram. Tudo com uma completa negligência melódica.

Em terceiro lugar, eles cantaram principalmente para si mesmos. Certamente, eles cantavam em grupos e uns com os outros, mas a maioria de suas músicas foi feita por eles e para eles mesmos.

Mas tudo isso não importa. As músicas funcionaram! Enquanto viajava pelas proximidades, me lembrei de um amigo cineasta que, aos seus 70 anos, fez um filme com um elenco infantil. Ele comentou mais tarde: "Tinha me esquecido completamente de quanto as crianças riem. O set estava sempre repleto de risos, e eu pensei, onde perdemos o riso quando adultos?"

Tive uma experiência parecida. Viajar com estes cristãos perseguidos me fez perceber que eu havia esquecido o quanto os cristãos cantam louvores. Recordo-me que eu cantava somente na igreja ou em um coro ocasional em um grupo doméstico. Nunca havia realmente cantando hinos para mim mesmo. Não tenho uma voz extremamente boa para cantar e sentia que deveria deixar isto para aqueles que eram bons nisso. Mas, depois de ouvir as vozes da Igreja Perseguida da China cantando, praticamente, o tempo todo, e notar a diferença espiritual que isso causava neles, me perguntei: 'Por que não canto para mim mesmo; para meu próprio espírito, ou por que não vejo o canto como um ministério de encorajamento?"

Eis dois exemplos. Havia uma evangelista, cujo nome era Yang. Ela foi visitada por outro pregador que estava muito abatido. Ele queria comprar um toca-fitas, mas não tinha dinheiro. Yang se sentou e começou a cantar sozinha. Sua voz era forte e irregular, a melodia era pouco perceptível e as palavras eram simples:

Sou um peregrino, meu lar está no céu
A vida é passageira, nosso lar está no céu
Neste mundo, temos muitas provações, tristeza e doença
A verdadeira felicidade não está neste mundo, mas no céu.

Yang cantou como se estivesse diante do próprio Senhor. Cada palavra era derramada de seu coração com total convicção. Lágrimas rolavam em seu rosto, suas mãos apertavam o ar. Logo, o pregador visitante se juntou a ela, e eu os observei, “rugindo” o hino juntos, ambos sorrindo. O pregador partiu, ainda sem dinheiro para seu almejado toca-fitas, mas revigorado e encorajado.

Observei novamente uma manhã, quando a Yang foi ao monte para orar. Segui-a a uma distância discreta. Primeiramente, ela orou por vinte minutos; então, ela cantou, caminhando, por mais vinte minutos. Durante a hora seguinte, ela leu sua Bíblia, fazendo anotações, planejando os sermões do dia. Depois disso, ela cantou novamente por mais meia hora.

Confessei que eu a tinha espionado e perguntei: “Por que você canta tanto quando não há pessoas para ouvir”? Ela respondeu: “Meu pai me disse uma vez: ‘Uma das coisas mais doces sobre a vida cristã é que você fará algo porque lhe é ordenado, então, passará o resto de sua vida obtendo uma visão mais profunda do porquê os mandamentos de Deus são tão bons’. Cantar é um mandamento. Nos Salmos, somos constantemente exortados a  cantar louvores ao nosso Deus. Mas, quanto ao por que, confesso que é um desses mistérios maravilhosos que meu pai me falou. Veja, enquanto eu estava na prisão, pude orar e ler a Bíblia, mas nada elevou meu espírito como cantar. Talvez seja porque cantar, de alguma maneira, concentra todo o meu corpo em louvor a Deus, mas descobri que é o essencial para a manutenção de um espírito confiante”.

Em seguida, ela parecia constrangida. Eu perguntei: “O que houve? Você estava prestes a dizer algo, mas ficou relutante”. Ela explicou: “Bem é que uma senhora me disse algo que realmente resume a  principal razão do meu cantar. Ela falou: ‘Nossos espíritos são como flores, e a música é como o sol. Assim como as flores só se abrem realmente quando o sol brilha; nossos espíritos somente florescem quando cantamos’. Acredito nisso. Não sei como, mas é verdade. Desde minha prisão, não posso viver sem música, e estou com muito medo que a China fique mais aberta, e as igrejas mais organizadas, pois deixaremos o ato de cantar para os profissionais. Isto seria terrível. Só se pode ter um florescer espiritual completo cantando”.

Quando voltei ao meu país, escolhi meus sete hinos favoritos. Dois deles são: “Nele descansamos, nosso escudo e nosso defensor,” e “Sopre em mim o sopro de Deus”. Estudei-os, e durante meus momentos de quietude, cantei com meu espírito. Constatei a verdade nas palavras de Yang. Uma canção eleva o espírito como nada mais.

E, quando leio a Bíblia, noto como cantar era uma prática central de fé.  Os israelitas cantam o tempo todo no templo; os prisioneiros Paulo e Silas cantam na prisão; na Igreja primitiva, cantavam uns aos outros; e o clímax das Escrituras está na visão de João do grande trono no Apocalipse. O que está para acontecer no mais santificado lugar, senão o cantar de uma “nova canção”?

Obrigado, Igreja Perseguida, por restaurar um componente-chave que havia se perdido do meu momento de quietude.

O texto acima foi retirado do livro “15 razões por que precisamos ter um encontro com a Igreja Perseguida” (tradução livre), de Ron Boyd-MacMillan, diretor estratégico da Portas Abertas Internacional.
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoSuzana Barreto

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