Livres para quê? – Parte 1

Uns são livres para cultuar a Deus da maneira como desejarem. Outros enfrentam dificuldades até na hora de matricular os filhos na escola, que só oferece aulas de religião islâmica. Mais importante do que questionar o porquê de tamanha diferença, é saber como podemos usar nossa liberdade para servir à Igreja Perseguida
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Muitos cristãos livres, quando confrontados com a realidade da Igreja Perseguida, afirmam: “Não fazemos nada. Nossa vida cristã não se compara ao sofrimento que esses irmãos suportam por amor a Cristo. Reclamamos de coisas tão pequenas e insignificantes que nem chegam perto ao desafio que tais irmãos enfrentam diariamente”.

A Igreja Perseguida causa mesmo um impacto. Seus testemunhos de sofrimento, ao lado dos relatos de perseverança e fé, atingem em cheio o nosso coração, colocando-nos contra a parede: “E você, o que tem feito?”.

Wim Beuzekom, um holandês de 48 anos, vivenciou isso na pele. Em maio deste ano, ele se encontrou com cristãos perseguidos em Uganda. Impressionado com os testemunhos que ouviu, Wim refletiu sobre a realidade da Igreja em sua terra natal: “Aqui as pessoas reclamam de que os cultos na igreja são muito demorados. Na África, ouvimos que a situação para quem se converteu do islamismo é muito difícil. Lá, eles se queixam de não poder ir à igreja simplesmente porque não têm igreja! Nunca pensei nisso antes. Essas pessoas contam suas histórias apenas em quartos de hotel com cortinas cerradas, porque têm medo. Deus quer que relatemos isso aos outros aqui na Holanda”.

Livres para a igualdade
Sentir-se culpado por usufruir de liberdade religiosa enquanto outros pagam um alto preço por Cristo é algo infrutífero. Nossa liberdade não deve ser menosprezada. Trata-se de uma bênção de Deus a nós, a qual deve ser corretamente administrada, não para o nosso próprio benefício, mas para o bem de todo o Corpo de Cristo.

Nas duas cartas que escreveu aos coríntios, Paulo pede a eles, que tinham boas condições econômicas, que apoiassem a carente Igreja em Jerusalém. Por volta do ano 46 d.C., uma crise de fome assolou a Judeia, e os seguidores de Cristo sofriam mais que seus conterrâneos. Assim que os coríntios souberam da situação dos judeus, elaboraram um plano para servi-los: arrecadariam uma oferta que seria entregue juntamente com uma carta aos líderes da Igreja em Jerusalém, por intermédio de um mensageiro.

A iniciativa dos coríntios motivou muitas outras regiões a participarem dessa campanha. Os gálatas entregaram suas ofertas e os macedônios, no ano seguinte, também participaram, de maneira exemplar. Paulo, em sua segunda carta aos coríntios, relata a disposição com que outros ofertaram e, havendo ainda necessidade em Jerusalém, contava com uma segunda doação dos coríntios. O apóstolo ressalta um dos objetivos de doar: “Nosso desejo não é que outros sejam aliviados enquanto vocês são sobrecarregados, mas que haja igualdade. No presente momento, a fartura de vocês suprirá a necessidade deles, para que, por sua vez, a fartura deles supra a necessidade de vocês. Então haverá igualdade” (2Co 9.13-14).

Não se trata de uma igualdade de condição: que Jerusalém alcance a mesma situação econômica de Corinto, ou que a Igreja Perseguida tenha a mesma liberdade que a Igreja brasileira. É antes uma igualdade em servir e poder ser servido, de abençoar e ser abençoado.

Podemos ver isso se repetindo entre cristãos brasileiros e cristãos perseguidos. Nossa liberdade fortalece sua fé. Sua fé dá sentido à nossa liberdade. Essa é a conclusão que muitos têm quando visitam pessoalmente a Igreja Perseguida: “Vamos com a intenção de abençoar, mas nós é que acabamos sendo abençoados”. Da mesma forma, há sinceridade nas declarações de agradecimento dos perseguidos: “Temos sido cobertos com o amor e cuidado de cristãos de todo o mundo. O Senhor tem usado suas orações para me fortalecer. Houve momentos em que continuei firme só porque sabia que alguém, em algum lugar, me colocava na presença do Senhor em oração. Alguém estava intercedendo por mim”.

Essas são as palavras que Gladys Juma, uma viúva do Quênia, registra em sua carta de agradecimento. Seu marido, Ben Juma, era médico. Ben dedicava-se à intercessão e servia na liderança da igreja batista Nyali. Em maio de 2012, ele e outro colega pastor planejavam uma cruzada evangelística na região. Homens enfurecidos com a cruzada acusaram os dois pastores de serem ladrões e os mataram de modo cruel, ateando fogo a seus corpos.

Colaboradores da Portas Abertas visitaram Gladys alguns meses após o ocorrido. Ela lhes contou que se sentia confusa. “Tudo que Ben fez foi amar a Deus. Tenho tantas dúvidas que nem sei o que dizer. Por que, Deus? Por que levar Ben agora, e dessa forma? Por que não leva lo enquanto ele dormia, ou num acidente, em que morresse instantaneamente? Tu te glorias no sofrimento pelo qual teu filho passou?”.

Onze meses depois, Gladys envia a carta de agradecimento à Portas Abertas a seus parceiros, na qual também mostra ter encontrado a resposta de suas próprias indagações. “Ben era minha rocha. Até hoje não sabemos exatamente o que aconteceu no dia em que ele morreu. A polícia não nos informou de avanços nas investigações. Mas o Senhor, por meio de seu Santo Espírito, tem me confortado ao me mostrar que o que aconteceu a Ben foi para cumprir os propósitos de Deus. Não me atrevo a questioná-lo nisso porque sei que ele é o oleiro e eu sou o barro. Ficamos animados em ver como o testemunho de Ben e minha jornada de fé têm encorajado irmãos dessa região tão difícil a permanecerem firmes apesar de suas lutas”.
Envie cartas de encorajamento
Enviar cartas aos cristãos perseguidos pode ser um ato bem simples, porém de grande efeito na vida dos nossos irmãos, pois, através de sua carta, eles serão encorajados a permanecerem firmes e não se sentirão sozinhos. Obtenha instruções e veja as campanhas de cartas que estão vigentes. Nesta página há também o endereço para onde as correspondências devem ser enviadas e modelos de texto.
FonteRevista Portas Abertas

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