#ViagemparaFilipinas 2

Em seu segundo relato, Khalil* continua compartilhando reflexões sobre o cerco à cidade de Zamboanga, ao sul das Filipinas, no qual muitas pessoas morreram. Um ano depois, ele se lembra das pessoas chaves frequentemente mencionadas na imprensa local enquanto as tropas do governo confrontavam os militantes
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Alguns suspeitos estão ligados à crise que se abateu sobre a minha cidade no ano passado. Há um homem supostamente por trás de tudo, mas ele ainda nega seu envolvimento. Seu braço direito relatou ter sido afastado do grupo, mas rumores dizem que ele ainda permanece. E há o líder da cidade que está sob pressão para reestabelecer a paz e o progresso em Zamboanga.


O “cabeça”
Acredita-se que o presidente fundador da Frente Nacional de Libertação Moro (FMLN, sigla em inglês) Nur Misuari tenha sido o mentor do confronto inicial. Depois de expressar sua desaprovação sobre o acordo do governo filipino com o grupo rival Frente Islâmica de Libertação Moro (MILF, sigla em inglês), ele declarou o renascimento da luta pela independência, com a criação da Organização das Nações dos Estados Federados da República de Bangsamoro ou simplesmente República de Bangsamoro.

Misuari planejou uma série de “marchas pela paz” nas principais cidades de Mindanao, como Davao e Cagayan de Oro. Em setembro de 2013, os militantes do MNLF chegaram em Zamboanga, mas as autoridades locais negaram seu pedido para organizar uma manifestação e içar a sua bandeira em frente à prefeitura. Isto levou ao combate entre as forças governamentais e os combatentes do MNLF. Misuari foi contatado por funcionários, incluindo o vice-presidente Jejomar Binay, mas as negociações foram infrutíferas. O grupo do MNLF não disse explicitamente que o cerco estava sob ordem de Misuari, mas outros subcomandantes do MNLF que lideraram os rebeldes tinham dito que estavam na cidade de Zamboanga sob o comando dele.

Pelo que ouvi, Misuari está atualmente em uma área reservada em Sulu. As autoridades o acusaram de rebelião por instigar o cerco sangrento. Em 29 de agosto do ano passado, Misuari supostamente ressurgiu na remota aldeia de Lampayag, perto da cidade de Panamao,  para comemorar o aniversário da declaração de independência da República de Bangsamoro.

O governo prometeu levá-lo à justiça.

O braço direito
Ustadz Habier Malik é o líder do Comando Revolucionário do estado Sulu. Ele reconhece o presidente fundador do MNLF, Nur Misuari, como o legítimo líder da organização separatista. Após a queda política de Misuari em 2001, o MNLF se dividiu em três grupos: o Conselho Islâmico de Comando (ICC), o Conselho dos 15, e a facção liderada por Misuari.

Juntamente com outros quatro subcomandantes do MNLF, o terceiro grupo MNLF assumiu o controle de quatro aldeias na cidade de Zamboanga em 9 de setembro do ano passado, forçando os moradores a fugirem da área. O cerco custou a vida de cerca de 200 pessoas.

O militar afirma que Malik estava entre aqueles que não sobreviveram. No entanto, o porta-voz do MNLF, Atty Emmanuel Fontanilla, afirma que Malik escapou do cordão militar e fugiu para Sulu. No entanto, até agora, Malik nunca ressurgiu para provar a alegação de Fontanilla. Eu me pergunto o que aconteceu com ele.

A prefeita da cidade
Maria Isabelle Clímaco-Salazar é a atual prefeita da cidade de Zamboanga. Inicialmente, ela liderou o comitê de crise aberto imediatamente após o conflito ter eclodido. Quando a crise se arrastou por uma semana e um nível de alerta 4 foi levantado, o presidente Benigno Aquino III assumiu o comando da comissão.

A prefeita foi consignada a controlar a crise humanitária que estava chegando ao ponto de ebulição nos centros de evacuação ao redor da cidade. O número de pessoas deslocadas aumentou para cerca de 110 mil, quase um décimo da população da cidade, que foi forçada a uma paralisação enquanto voos eram cancelados e portos fechados. Postos policiais foram colocados especialmente em pontos de entrada e saída para interceptar quaisquer forças adicionais para os rebeldes. Alguns subcomandantes do MNLF disseram que estão de prontidão para apoiar os seus companheiros de luta.

Depois da crise de Zamboanga ser declarada como “resolvida” pelo governo em 28 de setembro, Clímaco dirigiu os esforços da reabilitação para os moradores afetados. Ela também supervisionou a gestão do acampamento nos centros de evacuação. A partir de agora, vários locais transitórios foram distribuídos em várias aldeias. A reconstrução dos lugares devastados está em andamento. No entanto, cerca de 14 mil ainda estão nos centros de evacuação.

Seu governo estabeleceu um prazo para concluir todos os esforços de reconstrução até dezembro deste ano. Mas com o enorme volume de trabalho que ainda precisa ser feito, os otimistas são tentados a perguntar: será que ela vai ser capaz de cumprir? 


*Nome alterado por motivos de segurança.

Confira a última parte desse relato amanhã.

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#ViagemparaFilipinas 1
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoTamires Marques

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