Prisões em vez de lojas

29 dez 2014ERITREIA

Um destino comum dos cristãos da Eritreia não se parece em nada com uma loja de artigos religiosos. Trata-se dos campos de concentração — grandes acampamentos militares em que os presos trabalham incansavelmente. Mais de mil cristãos ocupam as celas de prisões eritreias; alguns são detidos em contêineres de metal
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A Igreja eritreia sofre grande pressão desde 2002, quando o governo baniu todos os grupos religiosos, com exceção de quatro: luteranos, ortodoxos, católicos romanos e muçulmanos; e mesmo esses são fortemente monitorados pelas autoridades. Os integrantes dos demais grupos não têm permissão para se reunir ou atuar livremente no país, e quando o fazem são fortemente oprimidos. Por causa de toda a pressão que a Igreja sofre, a Eritreia ocupa o 12º lugar na Classificação da Perseguição Religiosa 2014.
Perseguição foi o que a jovem Senet* encontrou ao ser fiel a Jesus. Criada em uma família cristã temente a Deus, ela aprendeu que obedecer ao Senhor é mais importante que obedecer ao Estado. Por causa disso, Senet foi presa com um grande grupo de jovens cristãos, anos atrás. “A cela em que fomos colocadas era pequena demais para as 56 mulheres que havia lá. Não tinha espaço para sentar, menos ainda para dormir”, compartilha a jovem.
Numa noite, Senet sonhou que estava lutando contra um homem muito forte, mas apesar disso, conseguiu derrotá-lo. No próprio sonho, ela surpreendia-se com sua força e perguntava-se como conseguira derrotar o oponente. Ao acordar, Senet comentou o sonho com uma companheira de cela. Essa foi uma atitude equivocada, pois, dias mais tarde, a perseguição contra Senet recomeçou — possivelmente um dos oficiais ouviu seu relato e resolveu se vingar.
“Fui acusada de continuar a pregar. Como punição, colocaram-me em uma cela ocupada apenas por homens”, ela conta, afirmando que essa foi uma experiência assustadora e humilhante. “Clamei pela intervenção de Deus. Alguns dias depois, mandaram-nos fazer as malas. Seríamos transferidos. Fomos forçados a caminhar quase 60 quilômetros até outra prisão. Mas Deus me ajudou e completei a jornada sem fraqueza nem dor”.
Passaram-se alguns anos até que Senet fosse convidada a assinar um documento de renúncia ao cristianismo. Ela se recusou. “Alguns parentes visitavam os presos, pedindo que assinassem o papel para saírem de lá. Isso aumentava a pressão sobre nós. Alguns familiares até ameaçavam cometer suicídio se não negássemos Jesus. Algumas mulheres chegaram a desistir por causa da pressão e assinaram o documento”.
Senet perseverou até o fim. No total, ela passou seis anos e quatro meses na prisão. Mas para ela, foi uma honra: “Glória ao nome do Senhor!”.
*Nome alterado por motivos de segurança.
FonteRevista Portas Abertas

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