Deus é bom em todo o tempo

15 mar 2015PAQUISTÃO

Ataques às igrejas no Paquistão são frequentes, causam temor, o constante estado de alerta e insegurança e, muitas vezes, resultam na morte de muitos cristãos. Mesmo diante de tantos desafios e dificuldades, a igreja paquistanesa firma-se em uma certeza que não pode ser abalada: Deus é bom
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“Amma, por favor, tire uma folga. Por favor, Amma, não vá trabalhar hoje”, disse uma voz débil, de uma figura esquelética deitada na cama. Sua mãe lhe deu um copo de leite com ternura.
“Sarah, é minha folga; hoje é domingo”, respondeu sua mãe, perguntando-se porque Sarah estava confusa. Elas tinham acabado de voltar da igreja, onde Sarah tinha compartilhado seu testemunho depois de mais de um ano sem poder sair para cultuar, desde os ataques contra a igreja, e que a deixaram paralítica.
Sarah sorriu e sentou-se, encostando-se em sua mãe. Sua frágil tentativa de segurar o copo em suas mãos fracassou em segundos e sua mãe teve de segurá-lo, deixando-a beber através de um canudo. Ela tremeu com a massa óssea de sua filha repousando contra ela e perguntava-se como iria cuidar de Sarah quando ela ficasse mais velha e com menos mobilidade.
Finalmente, Sarah secou o conteúdo do copo e sorriu para sua mãe como se dissesse: “Por favor, fique feliz. Fiz isso só por você”. Então, colocou a cabeça contra sua mãe e adormeceu.
Sarah nunca mais acordou.
Ela se recusara a descansar naquela semana até que seus pais a envolvessem em roupas quentes e cobertores, colocassem-na em uma cadeira de rodas e a levassem para a igreja. “Eu tenho que compartilhar meu testemunho”, insistia ela. Uma vez lá, ela foi levada até a frente da mesma igreja que tinha testemunhado um ataque brutal em setembro de 2013. Ali, ela testemunhou que Deus é bom. Sorriu para todos que a viam. Após o culto, foi uma questão de horas antes de Sarah desistir da luta pela vida.
Em setembro de 2013, Sarah se tornou uma das quase 200 vítimas dos ataques mortais a uma igreja de de Peshawar, uma cidade no norte do Paquistão, próxima à fronteira com o Afeganistão. Ela ficou paralisada de quase todos os movimentos de seu corpo abaixo das costelas, conseguindo mover minimamente os braços e pernas. Conseguia apenas levantar o dedo indicador em louvor.
Ela seguiu todas as instruções do médico em relação à fisioterapia. “Quero melhorar. Quero erguer minha Bíblia com minhas próprias mãos e lê-la. Quero caminhar para a igreja e compartilhar meu testemunho, de que Deus é bom”, disse ela.
Em janeiro desse ano, Sarah, que já não conseguia mais comer e digerir o alimento, tinha desvanecido fisicamente e tudo o que restou foi uma massa sombria de osso e pele. Seu espírito é que florescia. Embora a terapia tenha feito pouco, Sarah ouvia louvores e pregações o dia todo. Ela prosperou em comunhão com as equipes de trauma ALIVE, da Portas Abertas, que sentavam com ela, seguravam sua mão, tocavam-na e sorriam com ela.
“No final, ela tinha perdido a força até para falar”, disse uma consultora da ALIVE, que passou um tempo significativo com Sarah, sua família e com a equipe de cuidado pastoral. “Na última vez que a vi, antes do Natal de 2014, ela me permitiu segurar sua mão. Ela sorriu muito para mim e seus olhos brilhavam de alegria por estarmos juntas, mas ela falou tão pouco. Eu a beijei e me perguntei se veria minha amiga Sarah novamente. Saí de sua casa com lágrimas nos olhos e um temor em meu coração”. 
A mãe de Sarah chora por sua filha e esfrega o travesseiro onde ficava sua cabeça.
“Por mais de um ano, fomos as melhores amigas e passamos cada momento juntas, desde quando acordávamos até quando íamos dormir. Não consigo nem imaginar esta cama sem ela. Eu entro no quarto para vê-la e não a encontro. Começo a falar com ela e me lembro que ela se foi”, diz a mulher que viu tanta dor. Embora seu rosto mostre sofrimento, não demonstra nenhuma amargura. Ela sorri. “Sarah está onde foi criada para passar a eternidade. Ela está com Jesus e, depois de toda a dor pela qual passou, não posso ter rancor disso”. 
A morte de Sarah vem na esteira da tragédia de dezembro de 2014, quando militantes armados invadiram uma escola do exército, em Peshawar, e mataram mais de 145 pessoas, a maioria alunos. O ataque deixou o país abalado e chocado. No rastro da reposta do governo e dos militares a esses ataques, o Talibã e outras organizações militantes proibidas no Paquistão elevaram suas atividades e prometeram mais vítimas.
Escolas cristãs estão em alerta elevado. Muitas tiveram de atrasar as datas de abertura do novo ano e milhares de crianças em todo o país, especialmente de escolas e faculdades cristãs, não podem frequentar as aulas por ameaças na segurança. 
“Baba, estou assustado. Não quero ir para a escola”, disse Danyal a seu pai que é pastor. “Estou com medo do que eles fizeram com a igreja de Sarah. Estou certo de que se lembram como fazer isso de novo”, continuou ele, encolhido junto a seu pai, que compartilha do temor. 
“O que devemos fazer? Devemos mandar nossos filhos para a escola e arriscar que sejam mortos? Ou devemos mantê-los em casa e privá-los de sua educação? Ou devemos mandá-los para os tios e tias no Ocidente? Nossos filhos são tão preciosos. O que fazemos? Digo à minha congregação para orar mais. É tudo o que temos. Deus cuidará de nós”, responde o pastor.
Outro pai chora pela manhã enquanto deixa sua esposa, professora, e seu filho na mesma escola. “Sei que a escola tem um homem armado em cima do prédio, mas e se o plano não funcionar? A violência ajuda como resposta à violência? O que meu filho aprenderá nas aulas se tudo o que vê o dia todo são homens armados subindo e descendo os corredores?”.
A igreja no Paquistão está de luto. Sabe que amanhã pode acontecer outro ataque e membros valiosos podem perder sua vida ou verão o sofrimento de seus entes queridos.
“Todas as minorias ao nosso redor estão sendo perseguidas. Os cristãos são alvejados mais agressivamente. Que todos nós possamos ter a força para enfrentar a adversidade e reconhecer que Deus é soberano. Que todos estejamos dispostos a aceitar o consolo de Cristo e, como Sarah, que possamos dizer que Deus é bom”, concluiu o pai.
FontePortas Abertas Internacional
TraduçãoGetúlio A. Cidade

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