Qual o risco de um atentado terrorista do Estado Islâmico no Brasil?

28 mar 2015

Guga Chacra é comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York. Na última quarta-feira (25), ele publicou uma análise sobre a possibilidade de um ataque do Estado Islâmico (EI) no Brasil. Confira a seguir
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Existe risco de terrorismo no Brasil?
Claro que sim. Nenhum lugar do mundo está imune a um atentado. Mas a probabilidade de uma pessoa morrer em um ataque terrorista no território brasileiro hoje é próxima de zero. Afinal, nunca ocorreu uma ação destas no país e nem mesmo tentativas (falo do terrorismo atual, com a religião por atrás). Isso não significa que não irá ocorrer.

O risco de um homicídio não é bem maior do que de terrorismo?
É infinitamente mais provável que um brasileiro seja morto em um homicídio. Com 56 mil assassinatos ao ano, o Brasil apenas perde da Síria em mortes violentas se compararmos com os países do Oriente Médio. Um diplomata de uma nação desta região me disse estar complicado convencer outros diplomatas a irem viver em Brasília, São Paulo ou Rio, em consulados ou embaixadas, porque eles temem a violência no território brasileiro.
Por que não dá para descartar 100% o risco de um atentado?Porque o Estado Islâmico está perdendo a guerra no Iraque e na Síria. Para buscar mostrar que não está enfraquecido, talvez tente atentados em outras partes do mundo.
O Estado Islâmico já fez ataques terroristas fora do Iraque e da Síria?
Devemos lembrar, no entanto, que o Estado Islâmico, ao contrário da Al Qaeda, não tem organização para ataques terroristas globais. Até hoje, cometeu apenas um fora do Iraque e da Síria – justamente o da Tunísia. Segundo analistas, com as derrotas que vem sofrendo nos campos de batalha, isso pode mudar.
Quem poderiam ser os terroristas brasileiros?
No Brasil, a tradicional comunidade muçulmana vinda do Líbano e também da Síria é super bem integrada e sem relação com o Estado Islâmico e a Al Qaeda. É quase impossível um muçulmano brasileiro com esta origem se envolver em terrorismo. Os muçulmanos brasileiros são médicos, engenheiros, professores, advogados, comerciantes, industriais e até surfistas e lutadores de jiu-jitsu. São exatamente iguais aos evangélicos, aos católicos, aos judeus e ateus. Torcem para o Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. Votaram no Aécio e na Dilma. Voam de TAM e de GOL. Comem arroz e feijão, e também macarrão, quibe e esfiha. Existe, porém, um número pequeno (minúsculo, possível de contar nos dedos) de convertidos ao islamismo que adotam discursos radicais e o Estado Islâmico, por meios das redes sociais, talvez tente cooptá-los. Antes de perguntarem, lembro que o Hezbollah é xiita e um dos maiores inimigos do Estado Islâmico e da Al Qaeda no mundo.
Seria um ataque de lobo solitário?Ainda que o Estado Islâmico consiga convencer alguém no Brasil a cometer um ataque terrorista, não veremos mega atentados como o 11 de setembro, metrô de Londres, boate em Bali ou trens de Madrid. Mas podem ocorrer ações de lobos solitários, bem mais difíceis de serem impedidas, como vimos no mercado kosher de Paris e, depois, na Dinamarca.
Devemos ter medo do atentado?Resumindo, ninguém precisa deixar de dormir à noite com medo de um ataque terrorista no Brasil. Os EUA, um alvo infinitamente maior do que o Brasil para o terrorismo, desde o 11 de setembro, foi alvo de apenas um atentado. Isso não significa que as autoridades brasileiras devam ignorar o risco. Devem, especialmente com a Olimpíada, ficar de olho em possíveis terroristas dentro do país ou que possam cruzar a fronteira.

O artigo não expressa a opinião da Portas Abertas Brasil e serve apenas como informação de interesse público.
FonteEstadão

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